Reflexões em começo de outono
O Ministério Público, guardião da Democracia, cumprirá os seus papéis, dentre eles a defesa do Estado de Direito e da Saúde Pública
O 1º de abril, folclórico dia da mentira, nos faz refletir sobre as verdades universais e atemporais.
Há pouco mais de um ano o mundo mudou.
Mudou e, de maneira geral, mesmo com marchas e contramarchas do rápido processo histórico, deixou de negar o óbvio. Vivemos uma pandemia sem precedentes nos últimos cem anos e o negacionismo só traria – e trouxe – consequências mais graves.
Na véspera de 1º de abril de 2021, o dia 31 de março, o Brasil (que tem 2,7% da população mundial) respondeu por 89.200 dos 648.145 novos casos de COVID-19 no mundo (13,76%). E, mais grave e preocupante que isso, o Brasil, ontem, teve 3.950 óbitos por COVID-19 contra 12.301 em todo o mundo (32,11%).
Na inegável verdade dos números, um País com 2,7% da população mundial respondeu por 32,11% das mortes pela pandemia, em único dia.
Vivemos, outrossim, uma irresponsabilidade histórica com o planeta e com as gentes, além de com a nossa própria gente.
O negacionismo (que terá seu preço cobrado pela História) permitiu não só a profusão da doença de modo a colapsar os sistemas de saúde público e privado, como a mutação e difusão de variante – quem sabe até variantes – mais perigosa(s).
Se há uma situação muito preocupante, e há, noutro bordo resplandece a universal verdade. A ciência e a Democracia (com Instituições autônomas e fortes, sociedade organizada, além da imprensa livre) formam o único alicerce para trespassar uma crise tão grave.
O nosso amanhã não será o ontem.
Que a ciência e democracia sejam os instrumentos de garantia da vida face ao obscurantismo e contra o retrocesso.
Se há aqueles que buscaram reeditar 31 de março como o rechaço à Democracia, há – e em muito maior número – os que reafirmaram o compromisso do nosso País e de suas Instituições com a Democracia, com a ciência, com a liberdade e com a saúde de nosso povo.
O Ministério Público, guardião da Democracia, cumprirá os seus papéis, dentre eles a defesa do Estado de Direito e da Saúde Pública.
Nas Primaveras resplandecem os sonhos; do outono veio o chamamento para a redemocratização da Europa – e do mundo – pela primeira estrofe do poema de Verlaine (Canção de Outono).
Que o primeiro de abril não mais seja o dia da mentira, que os nossos dias não se façam mais com factoides, desinformação e negacionismo. Que a democracia seja, sempre, o mais lídimo instrumento contra as mentiras e em favor da verdade e da liberdade.
A Associação Paulista do Ministério Público reafirma o seu compromisso com a democracia, com a liberdade, com a verdade, com a ciência e com a saúde pública.
São Paulo, ainda no começo do outono de 2021.
Paulo Penteado Teixeira Junior
Presidente da Associação Paulista do Ministério Público